sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Memórias de um estagiário da DPT.

Foram seis meses trancafiado na sala das máquinas (DPT - Departamento de Processamento Técnico, repartição que recebe a doação de livros, para os desentendidos) jogando pás e pás de livros dentro daquelas caldeiras todo o santo dia, ou você acha que a Biblioteca Pública do Paraná recebe energia elétrica? São os “vapores letrados” que a fazem funcionar. Elevador, água quente, luz e etc. O cheiro de livro queimado não saía do cabelo, e o pior era quando precisava queimar aquelas velharias da Obras Raras, era o que dava mais fogo e o que mais fedia. E vai reclamar pra ver! O açoite era lei!
Às vezes, lá pelas três da tarde um amigo oriental do Térreo vinha me chamar pra lanchar e fumar um cigarro, era a melhor sensação do mundo largar aquela pá e não precisar dividir a comida com os ratos. E vocês me perguntam, mas porque não pediu ajuda pro seu amigo? Porque não fugiu? Eu respondo, quando sua chefe ameaça te chicotear com marca textos se você abrir o bico sobre o que acontece no Subsolo da Biblioteca Pública do Paraná, você não pensa duas vezes pra se calar. E tentar fugir? Tentar até que tentei, o máximo que consegui foi chegar na seção Belas Artes, onde fui surpreendido pelos guardas à “paisana cult”, nunca imaginei que aqueles grandalhões caberiam dentro de camisetas pólo listradas, tênis all star e sotaque inglês. O pior da punição não foi o trabalho dobrado, ler 7 vezes “Quem mexeu no meu queijo?” e comer páginas de livros de culinária foi o pior. Então, eu não contava nada, e assim, recebia meu meio pão, o pingado e só 22 chicotadas por dia.
Porém, depois dos três primeiros meses você se acostuma. A adaptação é terrível, as mãos ficam com uma casca grossa, o estômago enruga e diminui, e o cabelo começa a cair. Mas a aparência não tem importância quando você está sujeito a brigar com ratos, carregar toneladas de livros, e trocar o sal por poeira.
Pois bem, vamos chegar onde quero chegar.
Agora que estou livre, que posso respirar ar puro, comer algodão doce, e tudo mais, sei que é aqui, longe dos confins da Biblioteca que vou sentir no meu peito empoeirado, uma grande saudade de todos que trabalharam comigo e não foram simples colegas de trabalho. Obrigado pelas chicotadas, conselhos e papos furados. Foi muito bom conhecer vocês.

Memórias de um estagiário da DPT

Bruno Lorenzett Mocelin.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Aloha

"...E meus amigos parecem ter medo
De quem fala o que sentiu
De quem pensa diferente
Nos querem todos iguais
Assim é bem mais fácil nos controlar
E mentir, mentir, mentir
E matar, matar, matar
O que eu tenho de melhor: minha esperança
Que se faça o sacrifício
Que cresçam logo as crianças"

Aloha - Legião Urbana