sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

A faxineira


Não sei quem a contratou, não sei quanto ela recebe pra fazer a maldita limpeza. Eu sei, e só sei, que isso está acabando com meus dias.
Ela entra sem avisar, limpa tudo, não organiza. Passa a sua vassoura, espanador, produtos de limpeza e some com tudo, sendo sujeira ou não. Ando desconfiado que até roube. Não é possível! Eu deixo minhas coisas expostas para não esquecer de pegar ou fazer e, de repente, some. Simplesmente desaparece!
E eu não consigo encontra - lá para perguntar o porquê dessa faxina neurótica. Porra! Deixe-me em paz!
E ontem, exatamente dia 28 de fevereiro de 2008, foi a gota d’água. Desde semana passada que guardo numa caixinha de comprometimentos, que fica acima da caixa de lembranças, o compromisso de não esquecer da inscrição da bolsa para a faculdade. Mas a maldita faxineira entrou em ação, chegou e limpou tudo. Varreu da minha memória e eu esqueci de fazer a inscrição que finalizou dia 27. Só ontem, depois de revirar muito é que lembrei da tarefa. Fiquei “puto” é claro, por isso venho lhes avisar, cuidado com as faxineiras da cabeça, são bem eficientes e cobram caro.
A minha eu não encontro, deve estar por aí, limpando algo que nem lembro mais. Mas ela que se cuide! Porque se eu pegar...

sábado, 23 de fevereiro de 2008

parte II


...Uma mão, banhada ao brilho do sol, se estendeu para mim. A aceitei para levantar. A sua mão era como uma nuvem aquecida pelo sol. E imediatamente quando o movimento para se por de pé terminou, senti uma fisgada nas costas que fez minha cabeça se voltar involuntariamente para cima. Ninguém nos fios.

- Você esta bem?

Como num reflexo desesperado, olhei assustado para a direção da voz. O inverno voltou três vezes mais cruel para minha barriga. Eu conhecia aquela voz há dezenove anos, e dessa vez se dirigia a mim. Eu ainda não havia largado a sua mão de nuvem quente, e quando mais a segurava, mais o inverno ardia...


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

METADE



Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
E a outra metade um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
E a outra metade não sei

Que não seja preciso mais que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é a canção

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Metade - Oswaldo Montenegro

Bom, não tá engraçado. Mas foi o que meu humor conseguiu pensar.



Até mais

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A Mulher Cão

Lembro-me, quando tinha apenas 9 anos de idade. Assisti a uma reportagem que mostrava cenas de uma "Mulher Cão". Aquilo me aterrorizou, a mulher se mordia e atacava quem estivesse por perto. Se não me engano foram 2 semanas dormindo no quarto dos meus pais. Quando encontrei essa postagem, a nostalgia daquele dia me bateu, a divido com vocês.


Paula Rego , “Mulher-Cão”, Pastel de Óleo, 1994, Tate Gallery

A Mulher Cão.
(Sobre um quadro de Paula Rego)

Ela acendeu a brasa do fogão
anos e anos a fio. Esfregou o soalho
lavou a roupa e os vidros
da janela costurou bainhas
descosidas e levou toalhas a cheirar
a rosmaninho à senhora do andar
de cima.

Foi ao quintal buscar hortelã
para a canja e adormeceu ao som
das gargalhadas felizes dos meninos
hoje já todos engenheiros
com a Graça do Senhor.

Agora está atada ao côncavo
da terra por atilhos
grossos. Ladra à lua
e tudo nela
é carne e sangue.

Morde a mão
e dança a valsa
sobre o chão confuso
de algum sonho diluído lá no longe
nos botões do maestro
do coreto aos domingos e feriados.

Ela é grossa e ladra à lua.
Sente o corpo a crepitar
e rasga o coração.

Inesperadamente
entre coágulos de sangue
fala línguas
que nunca ninguém lhe ensinou.

Está atada
à sangrenta forja
das gramáticas lunares e procura
uma palavra
um nome mesmo que obscuro
e difícil de entender.

É uma mulher grossa
e no côncavo do corpo
fala línguas
sem sentido.

Deixou secar os coentros
a salsa e a hortelã.

Chama-se cão e ladra à lua.

Vive atada
às chamas que a consomem.

de: José Fanha, Marinheiro de outras luas
Fonte: baby lónia.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

As aulas e Méliès

Bom, as aulas recomeçaram. Depois dos cumprimentos, reencontros no bar e brindes à velha amizade, fui a sala e assisti a primeira matéria que foi História do Meios Audiovisuais, ministrada pelo professor Renato Pucci. Na aula ele nos mostrou esse vídeo que trago para vocês. O filme é de Georges Méliès e tem 50 segundos, se chama Un homme de têtes ("Um homem de cabeça") vale a pena assistir. Esse filme foi passado para dar ênfase ao conteúdo da aula, que fala sobre os meios e tecnologias usadas ao longo da história do cinema. O que me fascinou foi a criatividade de Méliès, usando um efeito bastante interessante e inovador para o cinema da época (1898), 3 anos depois do cinema ser criado.

*Georges Méliès (8 de dezembro de 1861 — 21 de janeiro de 1938) foi um ilusionista fracês de sucesso e um dos precursores do cinema, que usava inventivos efeitos fotográficos para criar mundos fantásticos.
*Um de seus filmes mais conhecidos foi Le Voyage dans la lune ("Viagem à Lua") de 1902, em que usou técnicas de dupla exposição do filme para obter efeitos especiais inovadores para a época.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

A menina e o cometa.

A deixei frente ao cometa. Não era magnífico como os retratados em livros e filmes, tão pouco, brilhante e veloz. Mas era o transporte mais acessível. E quem nunca almejou viajar num cometa?
Há um mês atrás veio me visitar à bordo de um, reclamou das baratas que pegam carona para outros lugares e das espécies esquisitas de humanos que usavam o mesmo transporte. Não há muita diferença nas pessoas que usam o cometa, se você não sabe de que lugar elas vem e se não passar um tempo com elas. E como a viagem atrasou um pouco, ela pode me contar algumas esquisitices. Depois disso perdi um pouco da vontade de viajar de cometa, já que esse não tinha Saint-Exupéry nem seu amigo, não subia tão alto, se não me engano apenas 408 km.
Porém esse cometa lento, que abriga baratas, gente esquisita e brilha pouco, me trouxe felicidades duas vezes já, a felicidade que deixei ontem na frente do cometa.
O piloto ligou e fez aquele barulhão, o cometa saiu com a sua calda de gás carbônico, joguei um beijo e ela retrucou com outro. Não fiquei sabendo como foi a viagem dessa vez, mas se quiserem saber, ou até mesmo conhecer um pouco do cometa, perguntem à ela. E aproveitem para entregar meus beijos.


O cometa:
http://galeria.portalinterbuss.net/albums/fotos/antigas/1343_Cometa.jpg

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Adimplente

Só deixa de ser real, se faz misterioso
São estes teus olhos, casa de caboclo
Por todos os dias, um dia diferente
Um copo, cigarros e assuntos pendentes.

Não faça perguntas,
Deixe que meu silêncio esclareça
Por todas as vezes que você me apagou,
Onde eu estava com a cabeça?

E todas as vezes que me esqueço:
Vento gelado na testa, fechar as janelas
Perdido, mete a cabeça entre as pernas.

Mas saio do bar, deixo o valor da conta
E a resposta para suas dúvidas:
São as marcas em minhas asas das nossas afrontas.

Sammia W. Hunaak

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Náufrago


quero logo me afogar
em outro amor

encontrar
um canto,
recanto

pra desfalecer
assim

longe de você
afim
de te esquecer.
Bruno L. Mocelin
Pintura: Louis Garneray, O náufrago