segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Malu III


Ele era chefe da sessão de arte-final e parecia ser novo demais para isso. Pelo menos era o que a Malu achava. Mas o que podia se esperar de uma empresa de quadrinhos? Um chefe gordo e barbudo com a camiseta do Star Wars seria coisa de filme.
Malu sentava duas mesas de distância do chefe, ela era nova no emprego e achava que ele ficava de olho no seu trabalho. Mas na verdade Malu estava sentada num lugar não muito bom. Ficava ao lado da mesa de cafezinho, e o moço magro, barba rala, óculos torto, era viciado em café. Malu adorava café, mas quando ia tirar alguma dúvida na mesa do Pedro (o chefe) ficava até um pouco sufocada, o cheiro de café era muito forte, devia vir dos dois lixos abarrotados de copinhos sujos de café que ficavam em baixo da mesa dele. Com o tempo Malu foi se acostumando com o cheiro e descobriu que o problema não era o Pedro (que apesar de ser tranqüilo, sempre achava um defeito no seu trabalho)o problema mesmo era o Rodolfo, um gordo barbudo que não usava camiseta do Star Wars. Ele era simplesmente o diabo em pessoa, ou pelo menos fez um pacto com o chifrudo. Como podia desenhar tão bem e ser tão “filho da puta” com os outros. Ele era uma espécie de chefe geral, supervisionava todos os setores e vivia dando bronca no Pedro por qualquer coisa: “Ah, olha essa ilustra aqui, ta faltando um tom de azul”, “Que borrado é esse?”, “Que droga é essa? Mande fazer tudo de novo”.
E era só o Rodolfo sair da sala, que o Pedro aumentava a música do Mutantes lá no último volume, pegava dois copos de cafezinho e cochichava bem baixinho enquanto enchia o segundo copo: “gordo pau-no-cu”. Malu se segurava pra não rir da cara do magrelo, não devia, pois uma risada não seria de todo o mal depois do estresse que o Rodolfo sempre causava.
Certa vez, Pedro foi buscar aquele cafezinho rotineiro de sempre e olhou pra mesa da Malu sem compromisso, e lá estava um desenho bem colorido. E já que Malu havia saído para ir ao banheiro (isso é o que dizia ela, porque sempre voltava com o olho vermelho do tal banheiro) Pedro pegou o desenho para olhar mais de perto, afinal os óculos mais tortos do que nunca não estava ajudando muito, e quando viu era ele desenhado no papel, Malu havia o desenhado perfeitamente (com dois copinhos de café na mão, camiseta dos Mutantes e um balãozinho dizendo: “Gordo pau-no-cu”. Nesse mesmo momento Pedro ouviu um: Puts Descuuulpa! Pedro olhou, e lá estava Malu na porta da sala com o olho vermelho e uma “cara de taxo”. Malu se aproximou e pediu desculpas mais uma vez, Pedro respondeu com um: “Você desenha muito bem”. Na mesma hora em que Malu envergonhada ia agradecer o elogio, Rodolfo entrou com tudo na sala dizendo “Quem desenha bem?! Deixa eu ver” e tomou o papel da mão de Pedro. Acho que na mesma hora os dois pensaram “Puta que Pariu!!!” E foi essa a primeira palavra que Rodolfo pronunciou “Puta que pariuuu, ninguém trabalha aqui nessa espelunca, olha aqui ficam fazendo gracinhaaa. Queeem desenhou isso?” Malu tremendo por causa do exageiro disse que foi ela. Rodolfo gritando disse que era para ela e Pedro imediatamente o acompanhar até sua sala. Malu olhou para Pedro, ele estava com uma cara muito esquisita. Pedro disse para Rodolfo aguardar, ele foi até a sua mesa pegou os dois lixos abarrotados de copinhos de café, parou na frente de Rodolfo, deixou um dos lixos no chão e o outro para o espanto de todos jogou na cabeça de seu chefe. Malu não acreditava no que estava acontecendo e vendo todos da sala com cara de espantados começou a rir. Pedro não riu, apenas com toda calma do mundo pegou o lixo que não jogou na cabeça do seu agora ex-chefe e, subiu em cima da mesa, colocou o lixo em cima do monitor do computador, tomou uma mínima distância e chutou... o lixo, era copinho pra tudo quanto é lado. Os copinhos caíram todos no chão, em câmera lenta é claro (pois, foi assim que Malu presenciou o momento, parecia mágico todos aqueles copinhos brancos contrastando com os pinguinhos de café que sobraram dentro de alguns copos voando por todo o escritório com a trilha sonora de Pedro com as mãos para cima gritando: Gordooo paaau no cuuuuuu!).

E Foi depois de toda essa história, no ônibus com a carta de demissão na mão vendo Pedro pela janela andando na rua com um sorriso de orelha a orelha mesmo que acabara de ser demitido, que Malu entendeu que tudo tem um propósito até quando se toma dois cafezinhos por vez.



Malu parte I
Malu parte II

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

- caixa de entrada (1)


Conheceu ele na internet, assim por acaso, procurando a letra de uma música antiga que gostava e nem lembrava direito ou procurando pessoas esquisitas pra dar risada. Entrou nas comunidades e lá estava ele, com uma cara de mongo que não era bem uma cara de mongo, parecia ser simpático. E lá, abaixo da cara de mongo simpático estava a letra da música, assinada com um: "Nossa nem lembrava dessa música, escutei ela esses dias numa k7 velha que achei aqui em casa, vocês lembram?!" E abaixo comentários do tipo: "Saí dessa cara, que careta!". Ela não, ela escreveu com o CAPS LOCK ligado: "CARALHO MEU, VOCÊ GOSTA DESSA MÚSICA?! QUE FODA!" Não tinha como responder de outra forma, não tinha como os dois não se interessarem um pelo outro, sim porque ele respondeu, aí ela respondeu e assim foi. Sem contar que ninguém gostava da música, e as duas únicas pessoas que gostavam tinham que se dar bem.
A voz dele no telefone era diferente, falava como se estivesse com a boca cheia, ela não imagina aquela voz saindo daquele cara da foto. Mas ele zuava o sotaque dela, que mal faria zuar da voz dele?! Além de tudo, ele forçava muito o E no final das palavras, mas e daí?! Ele gostava daquelas músicas, gostava de café, gostava de conversar com ela.
Marcaram um encontro, depois daquele tempo todo. Ela não conhecia a cidade, ligou e disse que estava num bar do lado da rodoviária, um bar de cadeiras vermelhas, chamado "Bekos Ba" Ele riu da brincadeira, o R do bar estava descascado, ele disse - Não tinha um "LUGA" "MELHO" pra me "ESPERA"?! Ela riu também!
Frio na barriga, sorriso no rosto, em meia hora estou aí, disse ele. Depois de uma hora ela escutou um barulho alto de moto, e sabia que ele tinha uma Walk Machine, o frio na barriga aumentou, parecia mais uma cólica. Era ele, mas não o menino da foto, era gordinho e o cabelo mais comprido, sem dúvida não era o menino da foto, mas era ele. Estava todo vermelho, ela o olhou, ele disse oi e ela disse “seu mentiroso”, ele ficou sério, ela soltou a gargalhada junto com um “pega um copo pra você”, ele voltou a sorrir, deixou uma fita k7 embrulhada num papel de presente na frente dela e foi até o balcão buscar um copo. Voltou com um copo e uma cerveja, ela de pé esperou ele repousar os dois na mesa, o abraçou, agradeceu o presente e depois sentaram, beberam e conversaram até o dia esfriar.


Última mensagem recebida em 18/8/2008 às 11:45.

sábado, 9 de agosto de 2008

I love u


Não sei escrever mais nada bonito. Bom, dependendo do ponto de vista, eu nunca soube escrever algo assim.
E nesse racionamento sem precendente de poesias, flores e I love yous, deixo por conta de quem sei que não falha.

Feliz Aniversário, essa música é mas sua do que minha. Obrigado por trocar a sua tv.

domingo, 3 de agosto de 2008

Um homem com uma dor


um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegasse atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha
ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra

Paulo Leminski